A entrada solene em Portalegre

No dia 09 de dezembro de 1915, o Papa Bento XV nomeia Bispo de Portalegre o Cónego Manuel Mendes da Conceição Santos, grande notícia que chegara aos ouvidos dos “seus diocesanos” através do jornal O Distrito de Portalegre que, na época, era a mais importante publicação da área diocesana. Deu a notícia da nomeação de forma muito protocolar, apresentando o novo Bispo como um “sacerdote excecionalmente zeloso”. A partir daí, iniciam-se os preparativos para a entrada solene na Sé de Portalegre: por um lado, a preparação da celebração e, por outro lado, a recolha de donativos a fim de oferecer ao novo prelado a Mitra e o Báculo, a qual se deu por concluída em fevereiro de 1916. E nos finais de abril, recebem a informação que a sagração episcopal seria em Torres Novas, pelas 15 horas do dia 03 de maio, fazendo imediatamente a tomada de posse e a entrada solene dar-se-ia no domingo seguinte, dia 07 de mesmo mês, pela mesma hora.

Na sua agenda pessoal, no dia 04 de maio de 1916, Dom Manuel Mendes da Conceição Santos, escreve: “Reuni os meus parentes… celebrei-lhes a Missa na capelinha do meu irmão e assim me despedi antes de partir para o campo que Deus me destinou. Vou pegar na cruz. Chegou enfim a hora de entrar em exercício. Deus seja comigo! Por Jesus e por Maria!”. Com todo o seu entusiasmo e espírito de missão, iria, desde a primeira hora, pôr em prática um dos propósitos que fizera no retiro de ordenação: “ser todo da diocese”.

Dois dias depois, a 06 de maio, sábado, Dom Manuel Mendes, pela tarde, debaixo de uma chuva intensa, chega ao território da sua diocese, tendo dormido em Castelo de Vide, onde era aguardado por um numeroso grupo de católicos de Portalegre, além do alto clero da diocese. Feitos os cumprimentos o grupo retirou-se, fincando o novo Bispo e o seu secretário em castelo de Vide.

No Domingo seguinte, 07 de maio, por coincidência Domingo do Bom Pastor, pelas 14 horas, chega ao Santuário do Senhor Jesus do Bonfim, à entrada de Portalegre, local de grande devoção, de batina encarnada, capa magna e arminho e, segundo o repórter do jornal A Guarda, “um ar alegre e simpático, sereno, meigo e atraente, algumas brancas já a polvilhar o cabelo preto”, onde, por uns momentos se fixa em oração pessoal até às 14h30.

Ao terminar a sua oração, repicam os sinos de todas as igrejas da cidade. Dom Manuel Mendes entra numa carruagem rumou à Sé e inicia-se o cortejo automóvel composto por dezenas de viaturas, entrando pela Rua Alexandre Herculano e percorrendo as Ruas 05 de outubro, da Sé, do Comércio, 19 de junho e Praça do Município. À sua passagem, pelas ruas que levam à Sé, chuva de flores caem sobre ele. A Sé estava repleta de fiéis e à porta o Cabido esperava o seu Bispo. Acolhido pelo Governador da Diocese, o Bispo paramenta-se na capela de Santa Catarina. Uma vez paramentado, organizou-se o cortejo litúrgico, integrando o clero e as confrarias, rumo à capela do Santíssimo Sacramento e depois para o Altar-Mor da Sé. Entretanto, o coro e a orquestra entoaram o Ecce Sacerdos Magnus. De seguida, o Bispo subiu à cadeira episcopal para receber a obediência do clero, subiu ao púlpito donde saudou a Igreja diocesana e depois deu a bênção a todos os presentes. Já no fim da celebração litúrgica, o Presidente o Cabido entoou o Te Deum e, concluído o hino, o Bispo abençoou, já no claustro, o pão que iria ser distribuído pela população mais pobre da cidade, num total de quatrocentos pobres.

Terminada a celebração, os convidados deslocaram-se para o Paço Episcopal, na Rua da Mouraria, 61 e aí Dom Manuel Mendes foi saudado pelo Cónego Mota, em nome do Cabido e pelo Pe. Sequeira, em nome do clero da cidade. Em atitude de verdadeira obediência, o Cónego Mota saúda o Prelado dizendo: “vós que sois desde já o nosso Pai espiritual e, por isso, possuindo aquele dom que assiste a todos os pais, de ler no coração de seus filhos traduzireis, no semblante de todos os sentimentos da alma que a vosso respeito animam e que só dizem neste momento dedicação e amor. Também podeis ler no coração de vossos filhos o desejo que os anima e que se traduz na vossa bênção sagrada, agora e sempre, na vida e na morte. Depondo aos pés do nosso venerando prelado esta homenagem, aos pés de Deus depomos igualmente ardentes votos para que o Eterno o conserve por dilatados anos a preciosa vida de Vª Ex.ª Rev.ª para bem da salvação das almas, para bem da Igreja, nossa mãe e para bem da nossa querida pátria”. Já o Pe. Sequeira, pegando na simbologia das armas episcopais, saúda Dom Manuel Mendes com as seguintes palavras: “saudando-vos, saudamos a estrela que vos há de orientar nos ínvios atalhos da vida; saudamos a torre inexpugnável em que todo o nosso confiar e triunfo, que é Jesus; saudamos a Cruz divina, a bandeira redentora, que reina e reinará para o eterno”.

Era habitual depois destes atos, servir-se um jantar; porém, Dom Manuel, consciente de que estava numa diocese pobre, com um clero pobre, muitos pobres, pediu que não se fizesse nenhum jantar de gala. Então, terminadas as saudações, também ele toma a palavra a fim de agradecer as várias saudações, com palavras de enternecida dedicação pelo clero, ao qual solicita toda a incondicional cooperação no sentido de, em conjunto, se levar a bom termo a tarefa de que fora encarregado pelo Santo Padre.

Antes de adormecer, naquele Domingo do Bom Pastor, depois de jantar somente com a sua mãe e o pessoal do Paço Episcopal, Dom Manuel Mendes regista na sua agenda pessoal o que foi aquele dia: “Fui de Castelo de Vide para Portalegre de automóvel. Dei entrada na catedral depois das três horas. Lá dentro receção carinhosa e comovente. Continua pairando sobre mim a mão dadivosa do Senhor. Receção que foi um triunfo para a Igreja. Oxalá eu saiba ser fiel”.

 

A Postulação

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